O Invisível Respeito à Bicicleta nas ruas

Texto por Germano Johansson Neto e João Pedro Maciente Rocha 

Pedalando pela cidade é possível perceber, cada vez mais, que embora nós tenhamos muito a evoluir como sociedade ainda, as pessoas se respeitam mais do que a gente pensa. Na maioria das vezes, nós, ciclistas, acabamos nos apegando a uma ou duas buzinadas que recebemos de motoristas impacientes. No entanto, muitas vezes não lembramos das centenas de veículos que cruzam nossos caminhos de forma respeitosa, ultrapassando a bicicleta com distância segura, reduzindo a velocidade, ou pacientemente seguindo-nos até o próximo semáforo. 

É natural que as buzinas e os xingamentos sejam frustrantes, visto que a agressividade sempre é mais marcante do que o respeito. Mas diariamente, observando a vida urbana, sentimos que o respeito está vencendo essa batalha. De lavada!

Desafogando a cidade

A importância da bicicleta nos deslocamentos urbanos vem crescendo exponencialmente. Segundo dados da ANTP, entre 2003 e 2013 a ciclomobilidade no Brasil cresceu mais de 50%. Grande parte desse aumento ocorre porque diversos agentes envolvidos nos processos urbanos tem abraçado a causa, tais como: associações locais, grupos de ciclismo, universidades e até mesmo órgãos públicos.

Outro fator importante é a própria mobilidade das cidades, principalmente brasileiras, cujas capacidades viárias estão praticamente esgotadas, fazendo com que carros e transporte público fiquem cada vez mais tempos parados no trânsito, aumentando muito a conveniência do transporte de bicicleta. 

Essa ascensão da bicicleta também possui um papel importantíssimo no aumento do respeito ao ciclista, afinal, quem não possui um amigo que se transporta na magrela? Esse respeito existe sim, e já faz parte do nosso subconsciente.

Políticas Públicas que ajudam a promover o respeito

Ainda assim é difícil para nós, enquanto sociedade, enxergamos esse progresso. Como já mencionamos, é mais fácil a gente guardar os desrespeitos do que lembrar dos avanços. Mas não é difícil encontrar a evolução no respeito advindo da interação entre os diferentes modais. A redução de mortes e atropelamentos é um ponto importante. Segundo o DATASUS, reduzimos entre 2010 e 2014 aproximadamente 20% o número de mortes de ciclistas no Brasil.

Neste sentido, o papel das políticas públicas tem sido extremamente relevante. Através de intervenções urbanas, como compartilhamento de vias, e da adoção de ações educativas, sociedade civil e governo tem unido forças em prol do despertar da conscientização da bicicleta. Confira alguns exemplos de políticas bem sucedidas:

1. Campanha “Eu Respeito Os Ciclistas”

Os veículos da frota de uma empresa de transporte público do Rio Grande do Sul, por exemplo, receberam recentemente um adesivo com o alerta da sinalização da lei do metro e meio (CTB Art. 201) como forma de multiplicar atos em respeito aos ciclistas.

2. Campanha Educativa da Prefeitura do Rio de Janeiro

A prefeitura do Rio de Janeiro treinou cerca de 400 motoristas de 14 linhas de ônibus para melhorar o convívio com ciclistas.Entre as orientações está sempre dar preferência ao ciclista, nunca disputar a via com a bicicleta, não andar colado, respeitar o limite de 1,5 metros de distância e respeitar ciclovias, ciclofaixas e faixas compartilhadas. A ação realizou também abordagem aos pedestres, ciclistas e motoristas de carros e motocicletas, com foco na sensibilização para as regras de convivência nas ruas.

O respeito à bicicleta precisa ser visível

Perguntando aos amigos o porque deles não pedalarem, as respostas mais frequentes são relacionadas ao medo dos automóveis e à falta de infraestrutura. Acontece que os riscos advindos do pedal na maioria das vezes são superestimados. 

É prudente e natural do ser humano ter aversão ao risco. E os motoristas, que concentram seus deslocamentos em vias expressas e arteriais, não enxergam o respeito ao ciclista, mesmo que eles próprios o respeitem. Parece contraditório, e é. No fim das contas, ciclistas acham que não são respeitados, e motoristas não enxergam o próprio respeito. 

Para tornar visível esse respeito ao ciclista é necessário, também, criar infraestrutura exclusiva para a ciclomobilidade, tornando-a literalmente visível para toda a cidade. Alguns fatores como a  velocidade das vias, a escala das ruas e o tamanho dos carros, fazem com que o próprio ciclista se torne invisível para os motoristas, minimizando todo o respeito que ele recebe quando se desloca pela cidade. Implementadas estrategicamente junto com ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas, são políticas públicas voltadas para sinalização, educação e fiscalização do trânsito que vão ter esse papel. O trânsito está mais humanizado, temos apenas que trazer isso para a consciência social. 

Mas não esqueça de fazer a sua parte. Aproveite o período eleitoral e traga a bicicleta para a pauta da sua cidade: discuta com amigos, familiares, e principalmente com os candidatos a prefeito e vereadores. Você sabia que já existem iniciativas de nível nacional construindo plataformas para facilitar a construção desse diálogo com os candidatos?

Finalmente, é importante dar continuidade aos trabalhos de conscientização. Precisamos trazer atenção para comportamentos seguros e defensivos no trânsito, evoluir muito no que diz respeito à democratização do acesso a cidade e aumentar o respeito entre os diferentes modais de trânsito. Mas são pequenas ações que ajudarão a fortalecer o respeito dentro da cidade.Independente do seu meio de transporte, sorria para a cidade, quando você se lembrar. Na maioria das vezes, verá que ela sorrirá de volta para você.

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Sobre este autor
Cita: COURB Brasil. "O Invisível Respeito à Bicicleta nas ruas" 06 Out 2016. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/796830/o-invisivel-respeito-a-bicicleta-nas-ruas> ISSN 0719-8906

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